Nª Sª da Lapa do Dianteiro, as preces e os louvores feitas à virgem poderiam compor um bom documento escrito da importância que Ela tem tido para as pessoas destas terras. O culto à Nª Sª no Dianteiro começou no início do século, talvez dada à beleza da imagem, com uma pequena procição. Rapidamente se torna padroeira no coração das gentes do Dianteiro. A Ela se dedicam muitos milagres, foi nas horas difíceis das doenças , das guerras, e das aflições que se rogou auxílio entre rezas e orações. Quantas mulheres privaram dos seus cordões de ouro, brincos, anéis, medalhas e outras peças de muito valor para agradecerem à virgem pela sua presença e auxílio nos momentos difíceis das suas famílias. Muitos se desdobram em promessas que se cumprem ao longo do ano, ou em Setembro no Domingo em que NªSª exposta num andor á força de seis homens é levada às ruas do Dianteiro. No dia da Festa a Igreja enche-se de flores e de interessantes trabalhos com colchas de seda e rendas que decoram as paredes. Pelas ruas a procissão faz expantosos conjuntos pictóricos, do guião e das opas vermelhas, ao colorido das bandeiras, dos anjos ao som da banda, mas o silêncio das orações imperam no rosto de muitos. À Senhora da Lapa gratos, recorremos, é o continuar da nossa cultura transmitida pela nossa gente, que se entranha na nossa alma e torna a Sª da Lapa a nossa fiel representação da Virgem Maria.
O arco cruzeiro faz a separação entre a nave da igreja e a capela-mor, é neste núcleo de transição que o canteiro tomou mais aproveitamento com as suas obras, além do trabalho fundamentado do arco, aliou ao conjunto dois altares laterais encimados por baldaquinos. Posicionando-se no altar esquerdo uma mísula para suportar a imagem do Menino Jesus.
O arco cruzeiro, com sensívelmente 4.5m de altura é ricamente trabalhado, com significados estilísticos interessantes. Os pilares trabalhados entre cordas e flores são encimados por uma cabeça de anjo de cada lado, que delimitam a parte terrena, enquanto o arco faz parte da área espiritual. Do chão até aos anjos se alteram entre si as flores e as cordas. Depois dos anjos os motivos vegetais aumentam, flores são mais trabalhadas, folhas entrelaçam-se e retrocem-se entre si como se envolvesse todo o fecho do arco. O arco é fechado com vegetação, é o ponto mais alto figurado da nave e sobre o fecho do arco campeia uma vieira como símbolo do batismo e da morte, o princípio e o fim.
Os baldaquinos semi-circulares são definidos por ramagens em sentidos ascendentes e descendentes. Os baldaquinos tem motivos iguais e semelhantes ao do púlpito que acreditam a unidade entre eles.
A mísula de suporte do Menino Jesus recorre aos mesmos elementos utilizados nos baldaquinos e no púlpito. É composto por um conjunto de ramagens que se entrelaçam e formam a base de suporte.
Os altares laterais são mais discretos. Assentam sobre mesa do tipo “ de urna” em pedra, onde se encontra simplesmente esculpida uma cruz. A simplicidade deste conjunto deve-se a estes altares estarem habitualmente tapados com toalhas.
No corpo da nave sobressai do lado esquerdo o púlpito, completamente construído em pedra. Ricamente trabalhado com motivos florais e geométricos, simétricos entre si. A base que sustenta o púlpito é uma alcachofra invertida. Trabalhado com vegetações sobretudo folhas que se retorcem entre si, surge o parapeito que na parte central comporta uma roseta, com um arranjo floral, onde as folhas transmitem movimento, comprimindo ao centro uma flor, este reclínio de movimentos faz com que a própria flor desabroche.
A pia da benção colocada no lado esquerdo da porta de entrada fazia conjunto com outra desaparecida no lado esquerdo da porta lateral. Semelhante a todas as descrições anteriores, a vieira é suportada por um conjunto de folhagens que se invertem entre si e suportam a pia. Os elementos decorativos desta pia são iguais aos da mísula e do púlpito.
Na capela-mor com a substituição do antigo retábulo com altar incorporado pelo retábulo actual, sem altar, houve a necessidade da construção de um altar de raíz. Esse altar em pedra lavrada , talvez fosse a peça em cantaria mais trabalhada no templo devido ás funções que cumpria, e ser uma peça do fim de carreira do canteiro, que com mais experiência e sabedoria se empenhou em acabar a sua obra. Com o consílio vaticano II a disposição dos altares foi alterada, e esta interessante peça foi destruída sem deixar registos.
A 21 de Março de 1908 o provedor da Santa Casa da Misericórdia de Coimbra abre a sessão extraordinária com as propostas de compra da antiga talha da capela da Calçada (situada na actual Rua Visconde da Luz construída por cima da nave central da igreja de S.Tiago) que viria por aquela altura ser destruída. Presentes e únicas propostas verificam-se uma dos habitantes do Dianteiro que ofereciam setenta mil reis por um dos retábulos laterais e oitenta e cinco pelo retábulo do altar-mor, e uma proposta da igreja do Senhor da Serra. Em vista a proposta não ser de todo desfavorável e haver a necessidade urgente de retirar a talha, a mesa resolveu abjudicar a talha do altar mor aos habitantes do Dianteiro e os altares laterais ao Templo do Senhor da Serra.
Este retábulo da capela-mor é o móvel de maior qualidade artística desta igreja, de estilo barroco do séc. XVIII.
Em 26 de novembro de 1734 a Santa Casa da Misericórdia de Coimbra encomenda este retábulo ao entalhador Portuense José Correia , de madeira entalhada, e ricamente dourada sem qualquer tipo de cromatismo. Ladeado por quatro grandes colunas do tipo salomónicas com capiteis coríntios (duas de cada lado) decoradas com flores, assentes sobre anjos que transmitem pelos seus corpos esforço e sacrifício e encimadas em cada lado por um anjo, que dificilmente são vistos dada a grande aproximação do retábulo ao arco cruzeiro. O trono com sete patamares ricamente trabalhados todos eles diferentes entre si, com motivos contracurvados, concheados e palmas. Assentado no último patamar uma imagem pequena da padroeira sem valor artístico significativo. O sacrário que assenta na base do trono, apesar de não ser uma peça original deste retábulo não está de tal modo desenquadrado do conjunto. O sacrário do séc.XIX também de madeira entalhada, dourado e policromado, com efeitos de marmoreado, por certo pertencente ao primeiro altar da igreja, que foi substituído em 1908 para dar lugar ao actual retábulo. Esse pequeno altar com três nichos onde estava colocado uma imagem da virgem, de Santo António e S. Mateus, foi colocado na sacristia e posteriormente vendido. O retábulo actual por não trazer incorporado o altar, José Barata elaborou um altar em pedra lavrada, destruído após o Consílio Vaticano II devido á falta de espaço para o novo posicionamento do altar.
O Templo é composta por dois corpos, nave e capela-mor, separadas por um arco cruzeiro.
No corpo da nave sobressai do lado esquerdo o púlpito em pedra lavrada, ao lado uma tela da Anunciação do Anjo à Virgem dos finais do séc.XVII. Nos flancos do arco cruzeiro estão colocados dois altares, sendo o da direita o de Santo António, e o do lado esquerdo dedicado à Sagrada Família, sendo a virgem Maria representada pela imagem de Nª.Sª. da Lapa, padroeira desta igreja. Os altares laterais não apresentam qualquer retábulo, a sua simplicidade evidência a qualidade artística dos baldaquinos em pedra que encabeçam os altares que assentam sobre mesa do tipo “ de urna” em pedra onde se encontra simplesmente esculpida uma cruz. No altar da sagrada família uma mísula de pedra ao centro sustenta a imagem do Menino Jesus. Junto ao altar de Santo António há um lampadário com um suporte de ferro forjado da autoria de Daniel Rodrigues, com motivos florais estilizados, dos finais do século XIX. Ao fundo dois nichos (que são as janelas) que ladeiam a porta encontram-se as imagens de S.Mateus no lado direito, e no lado esquerdo de NªSª de Fátima junto á pia batismal. Ao lado esquerdo das portas as pias de água benta recebem os crentes.
Construída em terrenos baldios no sopé do cabeço da Eira do Moinho, local onde o povo se reunia para tratar das ceifas, (malhar o trigo, centeio e a aveia) mudou de configuração nos finais do séc.XIX com a construção da capela do Dianteiro. A capela possui uma arquitectura sóbria e exibe características dos templos do séc.XIX. Com uma torre sineira rematada com quatro aberturas em arco, permitindo que o som dos sinos a arrebate, ou das horas proliferem por toda a aldeia, a torre é encimada por um galo que gira em feição dos ventos. O portal com um bonito trabalho em cantaria é encimado por uma cruz trata-se de uma obra revivalista, de verga curva, é ladeado por duas pequenas janelas e encimado por uma janela circular rendilhada lobada. O remate da janela é formada por quatro semi círculos que se unem entre si (um quadrilóbulo), os motivos que a decoram são idênticos aos do pórtico. Na cumieira uma cruz para o remate da fachada, em cada lado dos beirais uma taça com a chama (muito usada no barroco) como se ilumina-se a cruz. A porta lateral mais sóbria do que o conjunto da fachada principal, com umas linhas maneirista é rematada com um frontão interrompido que se desfecha com volutas decoradas com flores, prendendo ao centro uma cártula em que o rolo superior é furado por uma cruz.
Nos finais do século XIX o Dianteiro não devia passar dos cem fogos, havia a necessidade de construir um templo para apoiar o espírito das gentes da terra. A igreja mais próximo era a de Santo António dos Olivais, a lonjura e a falta de uma estrada tornava as gentes do Dianteiro umas alienadas à religião que tinham recebido pelo baptismo. A vontade de um homem elevou-se, Manuel Madeira, sozinho fez planos, idealizou, e construiu. O seu tempo, o seu trabalho de pai de família moleiro eram alternados com este grande projecto da sua vida construir a igreja do Dianteiro, sem apoios monetários de ordens eclesiásticas, de câmaras, de juntas, era o seu projecto que alargou ás gentes da sua terra. Todos os meses ao calor do sol e ao frio da chuva ia pelas portas do Dianteiro pedir contribuições. Do meio alqueire de milho e de feijão ao azeite e ás galinhas cada um dava generosamente das suas pobrezas e das suas faltas. Pela noite descia à cidade onde vendia os géneros a colégios e conventos que já eram da sua freguesia de moleiro.
Sobre um sopé de um morro de terrenos baldios na Eira do Moinho em 1884 (data provável) se começou a escavar, encravaram-se as fundações e as paredes começam a erguer-se. Sem projecto de arquitecto Manuel Madeira não temeu, José Barata, canteiro alia-se ao projecto e lhe fica a cargo todas as guarnições interiores e exteriores de cantaria da igreja, o que define terminantemente a estrutura da mesma.
A igreja e a torre estavam construídas, o povo cansado de dar, e o sonho do homem continuava, a venda de uma leira de terra no campo e de uns terrenos de mato na serra remataram com a construção da capela. Templo pronto de portas abertas (porque não as tinha) parte para o último peditório, cada um dava de uma tábua a um castanheiro para o trabalho de Bernardo Francisco que ofereceu os seus préstimos de carpinteiro para finalizar a obra. No início do séc.XX a igreja não tinha o espólio artístico que tem hoje, até à sua morte Manuel Madeira aumenta o espólio da igreja com imagens e telas umas oferecidas, outras compradas de antigas igrejas. Uma destas imagens foi a de N.ªS.ª da Lapa que mais tarde, se tornou a padroeira do Dianteiro. Em 1951 é requerido à Cúria Episcopal sob abaixo-assinado a criação da paróquia do Dianteiro integrando as aldeias de Casal do Lobo, Cova do Ouro, Carapinheira da Serra, e Golpe. Com a posterior desintegração e desinteresse destas aldeias só em 4 de Junho de 1975 o Bispo D. João Saraiva consuma o pedido e cria a reitoria da Igreja de N.ª S.ª da Lapa do Dianteiro a cargo do Padre António Henriques. Em 1977 chega à paróquia de Santo António dos Olivais o Frade Lucas Bridio, e posteriormente a comunidade dos Franciscanos Menores Conventuais que ali se instalam. Passados mais de trinta anos, o trabalho destes, nesta reitoria é notório, promovendo o desenvolvimento e crescimento da comunidade cristã...